Matéria Revista Dasartes
Como resultado do Prêmio Garimpo, realizado pela revista DASARTES, onde fui um dos vencedores no ano de 2021, Leandro Fazolla escreveu uma matéria sobre meu trabalho.
No final da pagina tem o PDF na integra.
ENTRE CAMPOS DE COR E CÁLCULOS MATEMÁTICOS, CONHEÇA A OBRA DO ARTISTA LUCAS QUINTAS, O SEGUNDO VENCEDOR DO PRÊMIO DASARTES 2021 PELO VOTO POPULAR
POR LEANDRO FAZOLLA
Como o título de uma série de seus trabalhos sugere, Lucas Quintas é um ilusionista. Por meio de diversos mecanismos em sua produção, o artista, bacharel em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM – SP), confunde o espectador, subverte materialidades, fazendo parecer simples e leves materiais densos, ou o contrário. Um dos vencedores do Prêmio Dasartes 2021 pelo voto popular, Quintas participou de alguns grupos de acompanhamento artístico, dentre eles o Hermes Artes Visuais. A produção dele traça relações com cálculos, ângulos e conceitos matemáticos, além de criar estreitos vínculos com noções como composição e perspectiva, entre outras.
Composta por uma grande quantidade de fios coloridos presos próximos uns aos outros em um chassi, apesar de lidar constantemente com uma aparente rigidez, através de linhas retas e muita exatidão, há algo de singelo na série . Algo de poético subverte as lógicas matemáticas tais quais são concebidas pelo imaginário popular, que constantemente relaciona a disciplina a algo oposto ao campo do emocional. Talvez pela escolha de suas cores, fortes, contrastantes, que se relacionam e complementam na criação de novos campos de cor, Quintas cria diversas formas pela sobreposição e aproximação dos fios, em um delicado trabalho que promove uma espécie de encontro entre desenho, pintura e escultura.
Ainda que possa haver no trabalho de Lucas um flerte com a ideia de ilusão, há, ao mesmo tempo, uma profunda honestidade em sua composição, dualidade completamente bem-vinda na produção do artista. Se as linhas esticadas, em uma primeira visão, tornam-se campos de cores sólidas que se fundem na criação de outros campos de cor, o artista permite que algumas poucas linhas “sobrem”, atravessem os limites do chassi, confrontando o público diretamente com sua materialidade maleável, contrastando com a forma rígida criada pelo tensionamento de tais fios. Ao mesmo tempo em que Lucas confunde a retina do espectador pela forma como usa o material, o artista também não se furta de revelá-lo em sua forma natural.
Tensão é o título de outra importante série de Lucas, ainda mais matemática que a mencionada anteriormente. Por meio de elementos como fios, bolinhas de chumbo e placas de madeira, Lucas cria circuitos de tensão, que muito se assemelham a imagens encontradas em fórmulas matemáticas e cálculos geométricos. Em tais obras, os jogos de peso, contrapeso e equilíbrio se dão pela criação de cada mecanismo, do estudo de cada medida. Ainda assim, junto a todo esse conceito inerente à obra, o que Lucas apresenta ao público com suas linhas, pontos e planos, são delicados desenhos que ganham tridimensionalidade e se deslocam da parede.
A obra do artista se expande ainda para além dos limites da moldura, em um encontro direto com a arquitetura, relacionando-se intimamente com os espaços onde são inseridas. Em suas instalações, linhas se tornam pontos de fuga que – mais uma vez – criam outro tipo de ilusão de ótica, distorcendo o que o espectador vê, dando aparente profundidade em imagens que, na verdade, são bidimensionais. Ou será que, uma vez que os fios têm espessura, ainda que mínima, o trabalho pode ser considerado tridimensional? Até no campo dos conceitos e definições, Lucas subverte e brinca com a retina e a compreensão do espectador. No jogo proposto pelo artista, a cada vez que contemplamos sua produção, algo novo parece saltar – quase literalmente – diante de nossos olhos.